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SEQUESTRO

  Tenho certeza de que em nenhum momento vou querer entender essa necessidade de dominar e de exercer poder sobre os irm?os.

  - Ele vai estar bem – FlorDoAr falou, a voz tranquila e confiante.

  Ariel suspirou, vendo Lázarus se elevar. N?o entendia aquela pontada de solid?o no peito, n?o entendia aquele sentimento estranho de estar só.

  - Duvido que algo neste novo mundo possa tocá-lo – sorriu ánacle, sob o olhar aprovador dos outros.

  - O mal n?o parece ter diminuído nesse mundo – Ariel suspirou com tristeza. – Parece que ele se tornou mais denso.

  - Venha, vamos andar. Ele está fazendo sua ronda no ar, ent?o que tal fazermos a nossa ronda pela terra? O que acha? – FlorDoAr sugeriu.

  - O que acham de nós quatro vistoriarmos o norte e o oeste? – sugeriu Mulo, fazendo clara men??o a Valentina, Avenon e Sol.

  - Acho bom. Eu, Ariel e FlorDoAr ficamos com o leste e sul – prop?s ánacle.

  - Por mim está muito bom. é uma boa forma de me distrair um pouco – concordou Ariel, passando os olhos pela pequena aldeia, onde algumas poucas crian?as e pessoas se ocupavam de suas vidas.

  Resolveram fazer a ronda a pé, em total silêncio, sentindo o ar, ouvindo o vento. Um grilo cantou um pouco à direita, uma on?a esturrou ao longe. Uma águia passou sobre aquele ponto da floresta. As horas se iam, e tudo parecia estar bem na tarde que avan?ava.

  Estavam numa pequena trilha depois de um monte relvado, a alguns quil?metros da aldeia, quando eles surgiram, simplesmente aparecendo do nada.

  Ariel gritou o alerta, as espadas brilhando no ar. Com satisfa??o viu FlorDoAr se poderar enquanto ánacle já disparava suas setas em absurda sequência.

  Eram perto de dezessete dem?nios que se fechavam sobre eles.

  Com o rabo dos olhos viu ánacle derrubar dois dos dem?nios. Mas, tomada de desespero, viu que três se fechavam atrás dele. Mesmo ele se voltando e dando cabo de um deles, as lan?as negras penetraram fundo em seu peito e o levantaram do ch?o, lan?ando-o para longe.

  Ariel ficou aterrorizada quando FlorDoAr viu o companheiro cair ao largo. Tentou se aproximar dela, mas ela voava em dire??o aos dem?nios, que incinerou com uma poderosa onda de fogo, bem como a outros cinco e tudo o que havia ao lado.

  Setas voaram contra ela, que queimavam sem mesmo a tocarem. E ela avan?ava e queimava, o grito ecoando como um lamento estridente e magoado, totalmente raivoso com a vida. Como se fosse em camara lenta Ariel viu uma das lan?as sobreviver ao fogo intenso, chegando até ela como uma lasca feroz e mortal, penetrando perto do cora??o.

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  Tomada de urgência atacou os que ainda restavam. Era como uma máquina programada para ir ao encontro dos amigos, matando tudo o que entrasse em seu caminho, rezando um mantra silencioso de chegar a tempo para evitar que eles fossem mortos. Tomada de urgência se tornou ainda mais terrível. Parte de sua energia passou para as espadas, que zuniam no ar como se fossem um elemtno único, vivo, feroz e esfomeado.

  Finalmente, quando o último inimigo caiu, Ariel correu e se ajoelhou perto de FlorDoAr. Com cuidado tomou sua cabe?a em seu colo, sentindo o fogo ir se desfazendo lentamente, num frio impossível que tomava sua amiga, que se esfor?ava em manter ánacle dentro de sua vis?o.

  Depressa se levantou e, tomando ánacle o levou para junto dela, deitando-o ao seu lado.

  Viu os olhos de FlorDoAr pesarem na lágrima de brasa que se apagava. O desespero e a dor a tomaram quando sentiu que o corpo dela amolecia em seus bra?os e o fogo se apagava definitivamente.

  Tomada de dor se dobrou sobre a amiga e chorou, um choro sentido e magoado, o corpo sendo tomado de solu?os.

  T?o atordoada estava na morte dos amigos e nos gritos e passos duros e apressados que vinham ecoando pelo ar, que reconheceu como que em sonhos ser de Mulo, Valentina, Avenon e Sol que n?o se deu conta de que n?o eram eles que se aproximavam, mas de dois dem?nios que apenas aguardavam nas sombras da mata que ela se distraísse o suficiente para que pudessem atacar.

  O golpe a atingiu com violência perto da têmpora, derrubando-a em uma nauseante escurid?o que a tudo encobriu.

  II

  N?o teve como se manter em silêncio.

  A dor a atingiu t?o fundo que nem mesmo se deu conta, por algum tempo, que o grito desesperado que ouvia e que enchia a sala escura e mal-cheirosa onde estava era o seu.

  E, no meio do grito só conseguia ouvir que Lázarus estava bem, que Sênior estava bem, apesar de toda a destrui??o e dor que o mundo experimentava. Tudo, tudo o que ouvia e sentia gritava sobre Sênior, insinuando a crueldade que ele implantara no multiverso ao desejar tanto a guerra. A dor e a morte, e a presen?a constante de Sênior, soprada em imagens de guerras onde ele destruía sem qualquer tipo de sentimento. Eram cenas de tempos muito recuados, de mortes e destrui??es de sistemas e vidas sem fim. E ali a voz que lamentava, a voz de um irm?o, implorando que Sênior o olhasse como o irm?o que sempre for a. Mas a vintana ignorava as suplicas dos irm?os, destruindo e traindo, erradicando tudo de bom que uma alma pudesse conduzir ou sonhar criar.

  Ent?o nos gritos e algaravias, nos espa?os que conseguia entre tantas lembran?as doloridas, podia ouvir conversas em salas ao lado, e ouvia nomes que reconhecia, e na dor desesperada jurava poder reconhecer a voz de Sênior conduzindo assembleias de dem?nios, dando a entender que se cansara das trai??es dos anjos e vigilantes.

  Dias em séculos torturados, tempo em imenso e esticado tempo transformado. Abandonada, torturada, vozes sem fim, lamentos sem fim, destruindo naco a naco tudo o que um dia julgará conhecer de Sênior ou Lázarus. Ent?o, um dia, arruinada e em frangalhos descobriu que tinha que assumir que o mundo era feito apenas de dor e escurid?o, de abandono e trai??o; entendendo que ali for a esquecida e ignorada, que Lázarus já n?o se importava mais com ela e com seu destino, e que talvez nunca tenha realmente se importado com ela, e que agora só havia o duro e cruel Sênior.

  E mais séculos se acumularam em séculos, a alma em constante luta para se acostumar com todo o horror que, sentia, era tudo o que lhe restara.

  Foi com um certo alívio que deixou que seus olhos perdessem a luz, para que sua alma se acostumasse e passasse a se alimentar da tortura costumeira de todos os dias e momentos, naqueles dias que, sabia, n?o teriam mais fim.

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