Durante o coma, vis?es sombrias tomavam conta de sua mente. Imagens de crueldade, destrui??o e sede de sangue se misturavam em sua consciência fragilizada. Sem saber o que se passava em seu interior, todos ao redor faziam o possível para cuidar dele e trazê-lo de volta à saúde. O sentimento era de esperan?a, mesmo nos dias mais cinzentos.
Vários visitantes vieram prestar apoio. Entre eles, Demir, Layla e até mesmo a jovem aprendiz da loja de Jasmine, com idade próxima à de Luck. Cada um deixou um presente:
- Demir trouxe uma luva especial, feita para aprimorar seu treinamento com a adaga.
- Layla ofereceu frutas frescas, para ajudar na recupera??o quando ele acordasse.
- A garota entregou um conjunto de roupas novas, criadas na loja com cuidado e carinho.
E ent?o, num sopro repentino… um grito.
Luck desperta, ofegante, como se tivesse corrido por horas. Sark, que dormia sobre seu peito, assustado, salta e se esconde. Aquele que despertava parecia diferente. O suor escorria, seus olhos estavam nublados — algo em sua mente havia mudado.
Quando Jasmine e Gaspar correm ao quarto para vê-lo, s?o repelidos por seu comportamento estranho. Ao tentarem se aproximar, o garoto recusa qualquer contato.
Gaspar, experiente e cauteloso, questiona se seria apenas uma fase rebelde. Mas algo mais profundo o preocupa. Pede a Jasmine que tenha cuidado e parte em busca de um velho amigo, um monge, pois teme que Luck esteja sob uma maldi??o. Antes de partir, ele deixa um aviso claro: “N?o o deixe sair, mantenha-o em casa, a qualquer custo.”
Jasmine tenta. Mas em meio à tens?o, sua paciência se esgota:
— “O que há com você, Luck? N?o me reconhece mais?”
O garoto ignora. Dá as costas e desaparece rumo à floresta, antes que Gaspar possa retornar.
Sark, agora mais forte gra?as ao amuleto, consegue ocultar sua presen?a e o segue em silêncio.
Luck vagueia sem rumo.
Carrega apenas o essencial: uma adaga, um arco com algumas flechas, um odre com água e um pouco de carne seca. Seu cora??o está tomado pela fúria. árvores tombam, animais s?o mortos sem propósito — ele havia se tornado algo sombrio, impulsionado pela ira.
Mais adiante, encontra os restos de uma vila destruída. O cenário é desolador.
“Terá sido um massacre?”, ele se pergunta. Mas algo pulsa dentro dele — o desejo de enfrentar a criatura responsável.
Com um sorriso distorcido, ignora tudo que aprendeu com Gaspar e avan?a ainda mais fundo na floresta. Criaturas poderosas come?am a cercá-lo, mas ele luta como se n?o se importasse com a própria vida — e suas feridas, ainda abertas, sangram sem pausa.
Ao anoitecer, invade um ninho de aves selvagens, expulsando os moradores à for?a para dormir ali.
Pela manh?, continua sua jornada. Os rastros se tornam claros. Finalmente, encontra uma caverna escura: a toca da criatura.
Dentro da caverna, Luck se depara com uma gigantesca salamandra adormecida, seus flancos ainda vibrando levemente após o banquete cruel que fez dos moradores da vila.
Mas o que pulsa dentro do garoto n?o é sede de justi?a — é a "Ira", uma energia sombria e mágica que cresce descontroladamente em seu peito, alimentando seus músculos, seus olhos e seus pensamentos.
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Sem estratégia ou cautela, movido pela magia corrompida, ele ataca com selvageria.
A salamandra desperta com um rugido, lan?ando uma poderosa onda de fogo. Luck, guiado por reflexos amplificados pela Ira, esquiva por instinto e se joga atrás de pedras. Lá, prepara seu arco, canalizando sua fúria na ponta da flecha e dispara contra as rochas no teto da caverna. Fragmentos desabam sobre a criatura, atordoando-a temporariamente.
é o suficiente para ele avan?ar. Tenta cravar sua adaga no corpo da salamandra, mas a pele escamosa, grossa como pedra, resiste completamente.
A criatura gira violentamente, e sua cauda acerta Luck de rasp?o. Ele cambaleia, mas n?o recua.
Uma nova rajada de fogo o alcan?a, queimando parte de seu ombro e bra?o — o cheiro de carne queimada invade o ar. Ainda assim, a Ira n?o permite hesitar.
Com o que resta de água, ele se molha parcialmente, aliviando a ardência, e em seguida, prepara outra flecha.
A salamandra prepara mais fogo, mas é surpreendida: do meio das chamas surge Luck, os olhos brilhando com um tom avermelhado, a energia da magia da Ira pulsando em sua volta como uma aura viva. Ele dispara uma flecha certeira, cravando-a num dos olhos da criatura.
A fera grita e o atinge com a cauda novamente, lan?ando-o com for?a contra a parede rochosa. O impacto estala seus ossos, mas o garoto se ergue. Ambos, exaustos.
Mas há algo nele… que continua a se erguer. A magia da Ira agora se manifesta visivelmente, como uma energia escura espiralando em torno de sua adaga.
Em um último impulso, corre em círculos, confundindo a criatura.
A salamandra, enfurecida, dispara rajadas de fogo por toda a caverna. Fagulhas o atingem, queimando parte de seu torso. Ele range os dentes, ignora a dor, e salta em dire??o ao monstro, sua adaga agora completamente envolvida pela Ira.
Com um grito, crava a lamina no olho já ferido.
Mas dessa vez, a lamina atravessa.
A Ira entra em contato direto com o cérebro da criatura, rompendo suas conex?es, consumindo sua energia vital de dentro para fora. A salamandra se contorce, emite um rugido sufocado, e finalmente... cai.
Luck, trêmulo, vitorioso, mas profundamente corrompido, respira pesado. Seus olhos ainda brilham com o poder da Ira.
A salamandra tomba, os olhos opacos, o corpo ainda soltando calor.
Luck, ofegante, com os joelhos cedendo, mal consegue manter-se de pé. A Ira ainda pulsa em suas veias, mas seu corpo n?o responde como antes. As queimaduras, os ferimentos, o desgaste... tudo pesa.
Mas antes que possa repousar, passos ecoam na caverna.
Das sombras, surge uma figura envolvida em um manto escuro, o rosto coberto por um capuz.
Ele observa calmamente o cadáver da salamandra, depois volta seu olhar para o garoto ajoelhado.
— “Tanto esfor?o... para perder algo t?o valioso.” — diz com um tom seco.
— “Essa criatura era uma pe?a importante, e agora... jogada fora por um infeliz garoto tomado pela própria ira.”
Luck tenta se erguer, mas suas pernas falham. O encapuzado continua:
— “Mas n?o importa. Você também morrerá aqui.”
Sem pressa, o estranho se vira e desaparece nas sombras da caverna.
Luck desmaia.
Mas ele n?o está sozinho.
Sark, que observava tudo escondido, corre até o garoto. O pequeno companheiro pressiona o amuleto mágico contra o peito de Luck, liberando uma luz tênue, que estanca parte do sangramento e estabiliza seus sinais.
N?o é cura... mas é o suficiente para impedir o pior.
A própria Ira interna do garoto, ainda viva, parece acelerar sua recupera??o — uma magia instável, que age por impulso.
Alguns dias se passam.
Luck desperta. Seus olhos, antes tomados pela fúria, agora est?o frios, calculistas. Sark se esconde. Ele sente que seu amigo está diferente, instável, talvez até perigoso.
Ainda enfraquecido, Luck se arrasta pela caverna. N?o sabe ao certo o que procura... até encontrar um laboratório abandonado: pergaminhos rasgados, runas inscritas em pedras, frascos de líquidos turvos e uma cadeira virada.
Entre os destro?os, um bilhete chama sua aten??o.
“O ca?ador está atrapalhando meus planos. Elimina minhas cria??es com facilidade irritante. Mas agora, está tudo pronto — e será o fim dele.”
Ao ler isso, por um breve instante, uma voz em sua mente rompe a neblina da fúria:
“Ele está em perigo… N?o posso perder Gaspar.”
O cora??o de Luck vacila.
Por dentro, a batalha entre sua consciência e a magia da Ira está apenas come?ando.