Luck cresceu como um verdadeiro guerreiro. Herdara a for?a, a precis?o e a sabedoria de seus dois mentores, recebendo ensinamentos valiosos que o preparavam, dia após dia, para um futuro repleto de aventuras.
Alguns anos haviam se passado desde aquele misterioso resgate na floresta. Agora, com 7 anos, Luck estava prestes a participar de um importante rito de passagem: sua primeira ca?ada. Naquela regi?o, uma crian?a tornava-se quase adulta antes dos 10 anos, e Gaspar, sempre atencioso, decidiu levá-lo à mata para ca?ar sua primeira presa.
Para o pequeno, tudo era novidade — uma dádiva!
Levava consigo um arco artesanal, feito pelas m?os habilidosas do próprio Gaspar, que o entregou com orgulho no olhar ao ver o excelente resultado do trabalho. Vestia roupas camufladas, costuradas por Jasmine com couro, lama e folhas, adaptadas para aquele ambiente selvagem. Antes de partirem, Jasmine — como toda boa mentora e guardi? — lan?ou dezenas de advertências a Gaspar, pedindo que n?o deixasse o menino ir longe demais, e que prestasse total aten??o em sua seguran?a.
Luck também carregava uma pequena armadilha de madeira, ideal para roedores — presente de Jasmine, com a desculpa de que "nenhum ca?ador come?a com alces".
Depois de tantos conselhos e advertências, a dupla finalmente partiu. Gaspar, com a calma de um veterano, mostrava os primeiros ensinamentos: rastros no ch?o úmido, cheiro de terra, marcas em galhos e a movimenta??o sutil dos animais ao redor. Luck, encantado, deixou escapar um riso ao ver que o nariz de seu mentor estava sujo de terra. Gaspar, no entanto, levou o dedo aos lábios e o olhou com seriedade — era hora de silêncio.
A floresta era rica em vida: vegeta??o densa, sons profundos, pequenos animais por todos os lados. Mas onde há presas, há predadores — e isso Gaspar fazia quest?o de lembrar. A aten??o n?o era apenas para o que queriam capturar, mas também para o que poderia ca?á-los.
Alguns metros à frente, depois de caminharem em silêncio absoluto, finalmente avistaram a presa: um pequeno porco-do-mato, com pelagem grossa, crina longa na cabe?a e dois chifres curvos em miniatura. Gaspar fez sinal para o garoto se acalmar e preparar o arco.
Luck respirou fundo. Seus treinamentos estavam prestes a serem colocados à prova. Com precis?o, puxou a corda, mirou... e disparou.
A flecha atingiu o pesco?o da criatura — um golpe certeiro!
Mas nem sempre a precis?o basta: o animal n?o caiu. Ferido, soltou um grunhido agudo e saiu correndo, desesperado, mata adentro.
Gaspar respira fundo e acalma o garoto.
Em silêncio, seguem pela floresta. As marcas do desespero deixadas pela criatura ferida se estendem mata adentro, entre galhos quebrados e respingos de sangue no solo. N?o demora muito até que Sark, atento como sempre, apare?a entre as folhas, emitindo um som de alerta. Algo está errado.
O ca?ador experiente fecha os olhos por um instante. Concentra-se. Ouve. Sente. O ambiente mudou. Há algo maior por perto — e perigoso.
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Sem perder tempo, Gaspar decide recuar. Luck ainda é jovem, e exp?-lo a um confronto direto seria imprudente.
De repente, um estrondo poderoso ecoa por toda a floresta.
Uma criatura surge das sombras: enorme, de aparência selvagem, semelhante a um urso, mas com pelos ralos e um grande "X" marcado em um dos olhos. Estava faminta. E havia farejado a presa ferida de Luck.
Frustrado, o garoto observa enquanto a fera se aproxima de sua ca?ada. Com rapidez e raciocínio surpreendente, ele amarra cordas resistentes entre as árvores, presas a pontas afiadas de bambu viradas para cima. Ent?o, sem hesitar, dispara uma flecha em dire??o à criatura.
Gaspar, em choque com a ousadia do menino, o agarra e corre. Ambos seguem direto para a armadilha improvisada.
A criatura, cega pela fome e pela fúria, n?o nota a corda. O peso do corpo desequilibra seus passos, fazendo com que caia brutalmente entre os bambus. A armadilha se fecha com violência. A fera se contorce, ensanguentada, cravada entre os galhos e estacas.
Mas ainda n?o está vencida.
Rugindo com fúria, ela se ergue, mesmo ferida. Sua pelagem manchada de sangue, fragmentos de madeira cravados na pele, olhos ardendo em ódio. Gaspar, percebendo o perigo iminente, esconde Luck atrás de uma árvore. Em um gesto calculado, coloca Sark em seu ombro.
O pequeno companheiro, entendendo a gravidade da situa??o, puxa de sua mochila uma corda. Gaspar, com um olhar, compreende o plano. Rapidamente, prende a corda entre duas árvores próximas, criando um la?o de conten??o.
Era um plano engenhoso. Mas o destino decidiu testar sua sorte.
Uma po?a lamacenta escorregadia faz Gaspar perder o equilíbrio. Cai de costas contra o tronco de uma árvore. A criatura, furiosa, investe. O impacto só n?o acontece porque as cordas a detêm a poucos centímetros de seu rosto.
A tens?o é insuportável. As cordas estalam, amea?ando ceder. A fera reúne suas últimas for?as para romper as amarras. Gaspar, sem saída, se prepara para o pior. Seus bra?os cansados. O corpo imóvel. A esperan?a, quase se esvaindo.
Ent?o, um grito rasga o ar.
Luck, surgindo das sombras com os olhos firmes e o punhal em m?os, salta com coragem.
Com precis?o, enfia a lamina no pesco?o da criatura. O golpe é fatal.
A fera finalmente cai.
E o silêncio retorna à floresta.
Gaspar, at?nito, encara o menino. O garoto que ele salvara anos atrás, agora tinha salvado sua vida.
Após o confronto, exaustos e cobertos de poeira, Gaspar e Luck se recostaram contra uma árvore. O silêncio da floresta parecia respeitar o momento. Foi ent?o que uma luz fraca come?ou a brilhar entre as folhas.
Apenas Sark percebeu de imediato. Seu pequeno amuleto — aquele colar que carregava no pesco?o — ressoou com um som leve e sutil. O som era quase imperceptível, mas o bastante para fazer o pequenino girar animado, dando pequenos pulos e brincando inocentemente com o brilho dan?ante.
Esse mesmo brilho ecoou também no amuleto de Luck, mas o garoto, cansado demais, sequer notou.
No interior da fera derrotada, havia um fragmento de malícia — uma essência obscura que a fizera perder o controle e sucumbir à fúria. Com sua queda, esse fragmento se dissolveu em partículas de luz fraca e foi absorvido... pelos amuletos.
Depois de um breve descanso, nossos heróis retornaram para casa. Feridos, famintos, mas vivos. No entanto, n?o escaparam da tempestade emocional que os aguardava: Jasmine, tomada pela preocupa??o, n?o poupou palavras. As broncas vieram aos montes — carregadas de amor e medo.
Aquela noite ficou marcada para sempre.
Gaspar, gravemente ferido, dormiu por três dias inteiros, sendo cuidadosamente tratado.
Luck, por sua vez, mal conseguia dormir. Dobrou seu treinamento. Estava decidido: precisava ficar mais forte.
Sentia, no fundo do cora??o, que aquilo havia sido apenas o come?o.
E que algo muito pior ainda estava por vir.