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O Convite

  O som do despertador ecoou pelo quarto, um toque familiar que normalmente me fazia querer afundar ainda mais nas cobertas. Mas, naquele dia, algo tava diferente. N?o senti o peso habitual nas pálpebras ou a pregui?a arrastada.

  A luz da manh? já atravessava as frestas da cortina, inundando o ambiente com um brilho suave e acolhedor.

  Levantei-me devagar, os movimentos ainda lentos pelo despertar, mas minha mente já estava em outra parte. Os ecos da reuni?o com Shihei preenchiam meus pensamentos completamente.

  A reuni?o… parecia algo saído de um sonho distante, mas era real. Eu estava a um passo de algo grande. Algo que poderia mudar tudo. Mas isso também significava que, mais do que nunca, precisava trabalhar duro.

  No entanto, antes que pudesse me perder nas ideias de refinamento e publica??o, havia algo mais urgente esperando por mim: as provas finais.

  Coloquei os pés no ch?o frio, um leve arrepio correndo pelas minhas pernas. Espreguicei-me, tentando afastar os últimos resquícios de sono, enquanto caminhava até o armário para pegar o uniforme.

  Foi ent?o que um pensamento atravessou minha mente como um raio, iluminando algo que eu tinha tentado n?o pensar tanto.

  "Se quiser, podemos estudar juntos para as provas finais. Como fizemos na biblioteca, lembra?"

  A lembran?a do convite de Yuki foi suficiente para que um sorriso bobo surgisse no meu rosto. Era um gesto simples, mas a maneira como as palavras ecoavam na minha mente as tornava incrivelmente significativas.

  Troquei de roupa e desci para a cozinha, onde o cheiro de torradas recém-saídas do forno e café fresco já dominava o ar. Era um cheiro confortável, quase como um abra?o de boas-vindas ao dia que come?ava.

  Minha m?e estava de pé perto do balc?o, passando manteiga em uma fatia de p?o com a mesma precis?o tranquila de sempre. No sofá, Hana estava jogada de forma despreocupada, com os olhos colados na tela do celular, enquanto segurava a mochila com a outra m?o, pronta para sair a qualquer momento.

  — Bom dia, Shin. — Minha m?e me cumprimentou com um sorriso acolhedor, enquanto passava manteiga em mais uma fatia de p?o. — Você parece bem animado hoje.

  Sentei-me à mesa, puxando uma das torradas para o meu prato, enquanto o aroma do café recém-passado tornava o momento ainda mais confortável.

  — Ah, dormi bem, só isso — respondi com um tom casual, mordendo a torrada.

  Ela me lan?ou aquele olhar desconfiado que só m?es conseguem dar, misturando divers?o e uma pitada de curiosidade.

  — Ent?o n?o tem absolutamente nada a ver com a reuni?o de ontem, certo?

  Eu ri, tentando parecer despreocupado, mas o calor subindo pelo meu rosto me entregava.

  — Talvez… um pouco — admiti, abaixando o olhar para a torrada. — Correu bem. O editor quer fazer alguns refinamentos na história antes de publicar um trecho na revista.

  Os olhos dela brilharam de orgulho, e Hana, até ent?o totalmente presa no celular, finalmente ergueu a cabe?a. Sua sobrancelha arqueada e o sorriso travesso já anunciavam o que viria.

  — Olha só, o Shin tá mesmo ficando famoso! — provocou, balan?ando o celular como se estivesse tirando uma foto mental.

  Minha m?e riu, me dando uma xícara de café e sacudindo a cabe?a.

  — Só n?o deixem isso subir à cabe?a dele. — Ela piscou, uma brincadeira clara no tom, mas suas palavras traziam um orgulho evidente.

  Sorri enquanto mordia mais um peda?o da torrada, deixando-me aquecer pela leveza daquele momento.

  Eu sabia que n?o dizia isso com frequência, mas o apoio delas fazia tudo parecer um pouco mais fácil, como se eu realmente pudesse lidar com qualquer coisa que viesse pela frente.

  Quando terminei de comer, empurrei a cadeira para trás e peguei minha mochila, jogando-a no ombro.

  — Estou indo. Vejo vocês depois.

  Minha m?e acenou, e Hana, sem perder o tom provocativo, ergueu o punho em um gesto de encorajamento exagerado.

  — Vai lá, Shin! N?o decepcione seus f?s!

  Revirei os olhos com um sorriso enquanto fechava a porta atrás de mim.

  Do lado de fora, a brisa matinal era fresca, envolvendo-me como um lembrete de que o dia ainda estava só come?ando. O som distante dos pássaros misturava-se com o murmúrio da cidade despertando — passos apressados, o barulho de motores, vozes ao longe.

  Caminhei até a esquina onde Seiji e Rintarou já me esperavam, e Seiji já estava animado como sempre.

  — Finalmente, Shin! — Seiji exclamou, acenando com energia exagerada, como se eu tivesse feito uma grande jornada até eles. — Achei que ia nos fazer esperar pra sempre!

  — Eu nem estou atrasado — respondi, revirando os olhos. — Vocês que chegaram cedo demais...

  — Disciplina é tudo — disse Rintarou, em seu habitual tom sério, mas o leve sorriso que surgiu no canto de sua boca entregava a provoca??o.

  Dei uma risada curta, mas logo notei algo estranho. Olhei ao redor, percebendo que alguém estava faltando.

  — E a Kaori? Onde ela está?

  Rintarou deu de ombros, ajustando os óculos com calma.

  — N?o vi até agora. Talvez ainda esteja dormindo?

  — N?o seria nenhuma surpresa… — Seiji comentou, rindo enquanto cruzava os bra?os. — Aposto que ela ainda tá enrolando pra sair da cama.

  Continuamos caminhando, o som de nossos passos misturando-se ao barulho suave da cidade despertando ao redor. Seiji, como sempre, decidiu encher o silêncio com sua energia, me cutucando com o cotovelo.

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  — Ei, Shin. O que foi aquela correria de ontem? Parece que tava com pressa de fugir da gente...

  — Na verdade, eu…

  Eu estava prestes a responder, minha mente já formulando o que ia dizer, quando o som de passos apressados atrás de nós chamou nossa aten??o.

  — Ei!! Esperem!

  Viramos ao mesmo tempo e vimos Kaori correndo na nossa dire??o, os cabelos um pouco bagun?ados pelo vento. Quando nos alcan?ou, ela se inclinou com as m?os nos joelhos, ofegante.

  — O que aconteceu? — perguntei, preocupado com seu estado.

  — Eu… — Ela levantou um dedo, pedindo um momento para recuperar o f?lego. — Acordei tarde. Nem… tomei café ainda. — Disse entre arfadas, com uma express?o que misturava cansa?o e resigna??o.

  Seiji balan?ou a cabe?a, colocando as m?os nos bolsos com um sorriso provocador.

  — Ah, isso explica muita coisa. Você tá com cara de quem mal conseguiu sair da cama.

  Kaori ergueu os olhos, claramente irritada.

  — Dá um tempo, Seiji! — retrucou, dando um pequeno soco nos bra?os dele.

  — Eu só t? dizendo o óbvio! — Seiji riu, levantando as m?os em um gesto defensivo.

  Rintarou deu um leve suspiro, já acostumado com as provoca??es entre os dois.

  Seiji olhou para as horas em seu celular e ent?o estalou os dedos, como se tivesse acabado de ter uma ideia brilhante.

  — Ainda temos tempo antes das aulas. Que tal uma passada rápida no café perto da escola? Assim, você n?o vai passar fome, Kaori.

  Os olhos dela brilharam imediatamente, como se aquela sugest?o fosse algo incrível.

  — Genial! Vamos rápido! — disse, já come?ando a caminhar na dire??o do lugar antes mesmo de alguém concordar.

  Rintarou lan?ou um olhar cansado, mas seguiu o grupo sem reclamar, enquanto Seiji ria de leve e aumentava o passo.

  — Sempre cheia de energia quando é pra comer… — murmurou Seiji, lan?ando um olhar divertido para Kaori, que fingiu n?o ouvir.

  Eu sorri, ajustando minha mochila nos ombros, sentindo a leveza da manh? com a intera??o animada do grupo.

  No café, nos acomodamos em uma mesa perto da janela, enquanto Kaori se aproximava do balc?o para fazer seu pedido.

  — Um bolo de cenoura, um suco natural e... um p?o também, por favor! — disse ela com um sorriso satisfeito para a atendente, ignorando completamente o olhar crítico de Rintarou ao fundo.

  Quando ela voltou para a mesa, ele arqueou uma sobrancelha, como quem já sabia o que viria a seguir.

  — Tem certeza? Comer tudo isso de uma vez vai te deixar com dor de barriga.

  Kaori revirou os olhos e pegou os talheres com determina??o.

  — Claro que tenho certeza! Eu mere?o — rebateu, apontando para ele com o garfo antes de atacar o bolo assim que a comida chegou.

  Seiji, como era de se esperar, também fez um pedido considerável. Quando a bandeja dele chegou, repleta de p?es e um copo grande de suco, eu n?o consegui conter meu comentário.

  — Você já comeu em casa, n?o comeu? — perguntei, cruzando os bra?os com uma express?o de falsa acusa??o.

  Ele riu, dando de ombros enquanto mordia um p?o com entusiasmo.

  — Refor?ar o café da manh? nunca é demais, Shin! Preciso de energia pra encarar as aulas de matemática...

  Rintarou balan?ou a cabe?a com um suspiro, mas seu olhar continha um leve sorriso, já acostumado com aquela apetita anormal de Seiji.

  Enquanto eles comiam, Seiji bateu na mesa repentinamente, fazendo com que todos nós olhassem para ele.

  — Ah! As provas est?o chegando. — Sua voz carregava um tom de alerta, como se estivesse anunciando algo urgente. — Vamos fazer um grupo de estudos de novo, Rin!

  Rintarou soltou um suspiro mais longo desta vez, recostando-se na cadeira.

  — Já imaginava que ia sobrar pra mim.

  — Claro que vai! — disse Seiji, gesticulando como se fosse óbvio. — Você é o gênio do grupo. Tipo, sem você, estamos completamente perdidos!

  Rintarou deu de ombros, mas n?o conseguiu esconder um leve sorriso.

  — Vamos precisar da sua ajuda, Rintarou! — continuou Seiji, apontando para si mesmo dramaticamente. — Minhas notas já est?o nas últimas, e a Kaori...

  Ele n?o conseguiu terminar a frase.

  — O quê? — Kaori interrompeu com um olhar afiado, ainda mastigando um peda?o de bolo.

  — Você tá em outra turma, mas... tenho certeza que suas notas também n?o devem ser t?o altas assim.

  — Tá me chamando de burra!? — exclamou, arregalando os olhos e se inclinando sobre a mesa.

  Seiji levantou as m?os, recuando teatralmente enquanto ria.

  — Eu só quis dizer que matemática é um desafio pra todo mundo…

  Kaori suspirou profundamente, largando o garfo e apoiando a testa na mesa de forma exagerada.

  — Matemática n?o é só um desafio. Parece mais uma... senten?a — murmurou dramaticamente, arrancando uma risada de todos.

  A cena leve e caótica me fez sorrir, mas, de repente, a men??o sobre o grupo de estudos fez com que minha mente voltasse ao convite de Yuki. Sua voz suave ecoou na minha cabe?a, e uma onda de calor subiu pelo meu rosto.

  "Se quiser, podemos estudar juntos para as provas finais. Como fizemos na biblioteca, lembra?"

  Senti meu cora??o acelerar levemente, mas tentei disfar?ar, voltando minha aten??o para a conversa na mesa.

  Rintarou, percebendo minha express?o distraída, inclinou-se levemente para mim.

  — Tá tudo bem, Shin?

  — Ah, sim! — respondi rapidamente, desviando o olhar. — Só estava pensando… Acho que formar um grupo de estudos seria uma boa ideia mesmo. Minhas notas n?o s?o das melhores.

  Rintarou olhou para mim por um momento, avaliando minha resposta, antes de dar um leve aceno.

  — Tudo bem. Eu vou ajudar vocês de novo.

  — Sério? Você é incrível, Rin! — exclamou Seiji, erguendo os bra?os em comemora??o.

  Kaori ergueu a cabe?a, o brilho de esperan?a voltando ao rosto.

  — Obrigada, Rin! Prometo que vou levar a sério dessa vez.

  — Dessa vez? — Seiji arqueou uma sobrancelha, rindo.

  — Ah, cala a boca! — respondeu Kaori, jogando uma migalha de bolo nele, enquanto todos ríamos.

  A energia leve e descontraída do grupo me deixou mais à vontade, mas, no fundo, eu ainda estava pensando em Yuki.

  Reuni toda a coragem dentro de mim, peguei meu celular, e, antes que percebesse, já estava com o chat dela aberto na tela.

  "Se quiser, podemos estudar juntos para as provas finais."

  Novamente, a lembran?a dessas palavras ecoavam em minha mente enquanto eu segurava o celular. Meu dedo pairava sobre o teclado, hesitante. Mandar uma mensagem parecia simples, mas, ao mesmo tempo, carregava um peso que eu n?o conseguia ignorar.

  Tentei reunir mais um pouco de coragem, me convencendo de que n?o era algo difícil. Comecei a digitar, cada palavra surgindo devagar na tela.

  "Oi, Yuki. Estava pensando… você quer estudar hoje? Se estiver disponível, claro!"

  Terminei a frase e fiquei olhando para ela. N?o parecia ruim, mas a dúvida se infiltrou imediatamente. Ela poderia estar ocupada, e também soava um pouco repentino.

  "Estive pensando... quer estudar comigo hoje?"

  N?o, parecia ruim.

  Com um suspiro, apaguei tudo de uma vez, sentindo a frustra??o me dominar. Encostei o celular na mesa, apoiando a cabe?a na m?o. Talvez fosse melhor esperar e planejar direito. N?o agir por impulso.

  Foi ent?o que uma vibra??o repentina cortou o silêncio. Meu cora??o deu um salto t?o forte que quase derrubei o celular.

  Era uma notifica??o. Da Yuki.

  Fiquei encarando a tela por um instante, como se precisasse confirmar que n?o estava imaginando coisas. Lá estava: era uma mensagem dela. Minhas m?os quase tremiam enquanto eu desbloqueava o celular rapidamente.

  "Bom dia, Shin. Tudo bem? Eu vou estar estudando na biblioteca após as aulas, se quiser, pode aparecer por lá!"

  Relia a mensagem como se cada palavra pudesse desaparecer se eu piscasse. Era quase como se ela tivesse lido meus pensamentos. Estava me chamando para estudar. Meu peito parecia prestes a explodir, e a sensa??o era uma mistura de nervosismo e alegria que eu n?o conseguia controlar.

  Sem pensar muito, comecei a digitar minha resposta.

  "Oi, Yuki! Claro, vou passar pela biblioteca após as aulas ent?o!"

  Enviei antes que meu cérebro pudesse me convencer a hesitar. Por um momento, o mundo ao meu redor parecia ter parado. O som das vozes dos meus amigos ficou abafado, como um fundo distante.

  A resposta dela chegou poucos segundos depois:

  "Combinado ent?o."

  Soltei um suspiro que eu nem percebi que estava segurando. Encostei-me na cadeira, o celular ainda firme em minhas m?os. Meu cora??o continuava acelerado, mas um sorriso genuíno se espalhou pelo meu rosto.

  Era impossível escondê-lo, mesmo que eu quisesse.

  Olhei para o relógio. Ainda havia aulas pela manh?, mas o horário seria perfeito para a biblioteca. Enviei uma figurinha de confirma??o, algo simples, mas que transmitia minha anima??o, e me permiti relaxar por um instante.

  Enquanto Seiji e Kaori trocavam provoca??es, e Rintarou balan?ava a cabe?a em resigna??o, eu estava em outro lugar. Meus pensamentos estavam na biblioteca, em Yuki, e na estranha sensa??o de que, talvez, as coisas estivessem come?ando a mudar para melhor.

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