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Sinais e Suspiros

  Ponto de Vista de Yuki

  A manh? estava fresca e tranquila enquanto eu caminhava para a escola com minhas amigas. O céu azul era coberto por algumas nuvens dispersas, e o ar ainda carregava aquele leve frio matinal. O caminho já era t?o familiar que meus passos seguiam automaticamente, enquanto minhas m?os seguravam a al?a da mochila e meu olhar vagava pelo movimento da rua.

  — Ah, Yuki, me passa o contato do Hirotaka? — perguntou Yumi ao meu lado, segurando o celular. — Preciso perguntar a ele sobre a atividade de Biologia.

  — Claro, espera um pouco. — Peguei meu celular do bolso e deslizei pela tela, procurando pelo nome dele na lista de contatos.

  Mas ent?o, algo chamou minha aten??o.

  "Shin está digitando..."

  Meus passos diminuíram levemente, enquanto eu observava a tela por um momento, sentindo meu cora??o dar um leve salto involuntário.

  Ele estava escrevendo algo.

  O que poderia ser?

  Esperei, como se pudesse ver as palavras surgindo na tela a qualquer instante. Mas, depois de alguns segundos, a notifica??o sumiu.

  Nenhuma mensagem chegou.

  Franzi levemente a testa, me perguntando o que ele teria pensado em dizer… mas ent?o desistido logo em seguida.

  "Talvez fosse algo sem importancia…"

  Mas, sem perceber, minha mente voltou à alguns dias antes.

  O tempo que passei na casa dele, cuidando dele enquanto ele se recuperava da febre. A forma como conversamos, mesmo que por pouco tempo, de um jeito que parecia... diferente.

  Foi por isso que, antes de sair de lá, fiz aquele convite para estudarmos juntos.

  No entanto, vendo que ele aparentemente hesitou em me mandar uma mensagem, percebi que talvez ele estivesse pensando no mesmo momento.

  N?o pensei muito antes de abrir a conversa e digitar rapidamente:

  "Bom dia, Shin. Tudo bem? Eu vou estar estudando na biblioteca após as aulas, se quiser, pode aparecer por lá!"

  Enviei a mensagem antes que pudesse pensar demais e bloqueei a tela do celular, guardando-o no bolso novamente.

  N?o demorou muito para uma resposta aparecer.

  "Oi, Yuki! Claro, vou passar pela biblioteca após as aulas ent?o!"

  Um pequeno sorriso surgiu nos meus lábios sem que eu percebesse.

  "Combinado ent?o."

  E, com isso, continuei andando ao lado das minhas amigas, sentindo o vento matinal soprar levemente contra meu rosto.

  — Ei, Yuki! Vai me passar o contato ou n?o? — Yumi cortou meus pensamentos.

  — Ah, sim!

  Ponto de Vista de Shin

  O café estava sendo iluminado pela luz suave da manh?, enquanto o som das xícaras e pedidos sendo anotados preenchia o ar. Nossa mesa estava uma completa bagun?a: pratos vazios, talheres espalhados, e Seiji terminando a sua segunda rodada de p?es como se fosse a primeira.

  Apesar do caos, o ambiente estava descontraído, e eu me sentia à vontade… ou quase.

  Meus pensamentos ainda estavam voltados para a mensagem de Yuki e a ideia de estudarmos juntos.

  Percebi tarde demais que um sorriso involuntário havia surgido no meu rosto.

  — Shin, que sorriso bobo é esse? — Seiji perguntou, se inclinando sobre a mesa com uma express?o exageradamente séria. — Tá t?o feliz assim por estar com a gente?

  — H?? Que sorriso? — Tentei disfar?ar, olhando para fora, como se o movimento apressado das pessoas na rua tivesse chamado minha aten??o.

  Kaori, segurando um peda?o de bolo com o garfo, levantou a sobrancelha e se juntou à provoca??o.

  — Ou será que está t?o feliz porque o Rintarou vai salvar sua pele nas provas? — Ela sorriu maliciosamente, parecendo que estava saboreando cada palavra mais do que o próprio bolo.

  — N?o tem nada a ver com isso! — respondi rápido demais, minha voz quase engasgando. — Vocês est?o imaginando coisas...

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  — Imaginar coisas é minha especialidade. — Kaori piscou antes de voltar ao bolo, claramente se divertindo.

  Seiji soltou uma gargalhada e deu um tapa amigável nas costas de Rintarou.

  — Essa rea??o... Isso só pode significar que estamos certos!

  — Vocês dois n?o d?o um segundo de paz. — Rintarou balan?ou a cabe?a, ajustando os óculos com um suspiro.

  Seiji inclinou-se para trás, cruzando os bra?os atrás da cabe?a.

  — Tá bom, tá bom. Mas agora falando sério, Shin. O que você ia contar pra gente? Sobre ontem?

  Respirei fundo, preparando-me para responder. N?o era algo que eu tinha planejado dizer t?o cedo, mas eles mereciam saber.

  — Ah, sim. Vocês lembram do editor que veio falar comigo no dia do concurso?

  — O cara de terno que parecia muito sério? Claro. — Seiji assentiu, franzindo a testa como se estivesse tentando visualizar a cena. — O que tem ele?

  — Ele marcou uma reuni?o comigo. Fui à Editora Kousei ontem, e… eles querem publicar um trecho da minha história numa revista semanal.

  Kaori congelou no lugar, os olhos arregalados. O garfo que ela segurava quase caiu da m?o.

  — O quê?! — exclamou, seu tom t?o alto que quase fez as pessoas nas mesas de perto olharem. — Isso é incrível, Shin!

  Seiji, no entanto, co?ou a cabe?a com uma express?o confusa.

  — Revista semanal? Isso é bom?

  Kaori suspirou dramaticamente, inclinando-se na mesa como se explicasse algo óbvio para uma crian?a.

  — Seiji… é uma das maiores oportunidades que um escritor iniciante pode ter! é tipo… a porta de entrada para algo muito, mas muito maior! Entendeu agora?

  — Ah, agora faz sentido. — Ele sorriu e deu outro tapa amigável nas minhas costas, desta vez com mais for?a do que o necessário. — Ent?o, parabéns, Shin! Você merece!

  — Obrigado. — Meu sorriso cresceu, e senti uma onda de calor agradável no peito ao ouvir as palavras de apoio deles. — Mas, sério… isso só... aconteceu porque vocês sempre me apoiaram.

  — Ei, n?o fala coisas assim! — Seiji fez uma careta exagerada, fingindo cobrir o rosto de vergonha. — Você vai me deixar sem gra?a, cara...

  Kaori come?ou a rir, quase cuspindo um peda?o de bolo, e Rintarou balan?ou a cabe?a novamente, segurando uma risada.

  A energia leve e descontraída do grupo me ajudava a relaxar, mesmo que, no fundo, meus pensamentos ainda estivessem fixados em Yuki.

  A caminhada até a escola foi animada e cheia de risos, como sempre. Seiji, como habitual, n?o perdeu a oportunidade de provocar.

  — Ei, vocês viram quanto bolo a Kaori comeu? Aposto que ela vai rolar em vez de correr na aula de educa??o física! — Ele riu, lan?ando um olhar brincalh?o na dire??o dela.

  Kaori parou no mesmo segundo, com uma express?o de indigna??o pura.

  — Seiji, eu vou te mostrar quem vai rolar! — disse, arrega?ando as mangas como se estivesse pronta para uma briga.

  Seiji arregalou os olhos por um segundo antes de dar meia-volta e come?ar a correr na dire??o oposta.

  — Calma, foi só uma piada! — gritou enquanto Kaori corria atrás dele, o som de suas gargalhadas ecoando pela rua.

  Rintarou, caminhando ao meu lado com uma express?o impassível, suspirou profundamente.

  — Eles nunca mudam...

  — é — respondi, rindo enquanto observava os dois correndo em círculos.

  Quando finalmente alcan?amos os port?es da escola, Seiji e Kaori já estavam sem f?lego, mas ainda discutindo como dois irm?os teimosos. A energia deles era contagiante, tornando o início do dia... um pouco mais leve.

  Quando chegamos à sala, me sentei no meu lugar, tentando ajustar a postura e focar na aula que estava prestes a come?ar. O professor, como sempre, já estava no quadro escrevendo fórmulas com uma caligrafia impecável, suas explica??es ecoando pelo ambiente.

  — Ent?o, se pegarem nesta fórmula e aplicarem aqui...

  Tentei prestar aten??o, mas era como se as palavras passassem direto por mim, sem realmente se fixarem.

  Minha mente vagava, inevitavelmente atraída para outro lugar: a biblioteca, o estudo com Yuki, a forma como ela havia me convidado de maneira t?o natural.

  O que eu deveria revisar primeiro?

  Português?

  N?o… talvez História fosse uma escolha melhor.

  Matemática também precisava de aten??o, minhas notas n?o eram t?o altas assim.

  — Shin. — Uma voz cortou meus devaneios, chamando-me de volta à realidade.

  Pisquei, ainda processando o chamado, mas minha mente estava lenta demais para acompanhar.

  Será que eu deveria levar meu caderno de exercícios?

  — Shin! — A voz do professor veio novamente, mais firme e carregada de impaciência, cortando meus pensamentos rapidamente.

  Me endireitei na cadeira, minha respira??o acelerando enquanto meus olhos encontravam os dele.

  — Sim, professor?

  Ele suspirou profundamente, cruzando os bra?os com um olhar que era a mistura perfeita de irrita??o e expectativa.

  — Pode responder à pergunta 4?

  Meu olhar se virou para o quadro branco, onde uma fórmula estava escrita em letras grandes e claras. Mas, para mim, era como se fosse um idioma desconhecido. Minha mente ficou em branco, e as palavras do professor ecoaram como um ruído distante.

  For?a… algo sobre movimento? Terceira… terceira o quê?

  Meu cora??o come?ou a acelerar, e o calor subiu pelo meu rosto.

  Estava completamente perdido.

  — é a terceira lei de Newton... — Uma voz baixa e calma sussurrou ao meu lado, suave o suficiente para n?o chamar aten??o, mas clara o bastante para me tirar do desespero.

  Virei-me ligeiramente, apenas o suficiente para ver Yuki. Seus olhos brilhavam com uma tranquilidade desconcertante, e havia um pequeno sorriso nos lábios, como se ela soubesse exatamente o peso que tinha acabado de tirar dos meus ombros.

  Aquela calma serena dela… parecia quase inabalável, e por um instante, me senti ainda mais perdido. Mas n?o havia tempo para pensar nisso.

  — Ah… é a terceira lei de Newton — repeti, tentando soar confiante, mesmo enquanto sentia o calor subir pelo meu rosto e minhas m?os ficarem inquietas embaixo da mesa.

  O professor levantou uma sobrancelha, avaliando minha resposta antes de assentir.

  — Correto. Finalmente está prestando aten??o, Shin. Continue assim!

  Uma onda de alívio percorreu meu corpo, e voltei à minha posi??o, soltando um suspiro silencioso. Meu cora??o ainda estava acelerado, mas era uma mistura de alívio e algo mais. Sem conseguir evitar, lancei outro olhar de canto para Yuki.

  Ela já havia voltado sua aten??o para o quadro, seu rosto calmo e focado, como se nada tivesse acontecido.

  Era impressionante como ela parecia estar sempre em controle, sempre um passo à frente.

  Aquela serenidade… quase fazia parecer que salvar minha pele era a coisa mais natural do mundo para ela.

  Apoiei o cotovelo na mesa, inclinando-me levemente, minha mente vagando por pensamentos que n?o envolviam exatamente a terceira lei de Newton.

  Já era a segunda vez que Yuki me ajudava assim, e a segunda vez que eu percebia o quanto precisava melhorar.

  Talvez eu devesse realmente me esfor?ar mais. N?o apenas por mim, mas porque, de algum jeito, queria estar à altura daquela calma e confian?a dela.

  Suspirei de novo, dessa vez com um leve sorriso de lado.

  Eu definitivamente precisava estudar mais… pelo menos para n?o depender tanto dela.

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