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Sob a Luz do Entardecer

  No intervalo, nos reunimos no pátio, onde o sol brilhava confortavelmente entre as árvores. O ar estava cheio do som de risadas e conversas, e o cheiro de grama fresca completava a atmosfera tranquila.

  Estávamos discutindo os planos para as provas quando Kazuki apareceu, carregando um bloco de notas grande e um sorriso que só ele conseguia fazer parecer t?o confiante.

  — Pessoal! — Kazuki anunciou, levantando o bloco de anota??es. — Já pensaram no que nossa turma vai fazer para o Festival Escolar? T? anotando todas as ideias possíveis, porque a gente precisa criar algo que vai entrar pra história dessa escola!

  Ele abriu os bra?os dramaticamente, como se estivesse revelando um segredo revolucionário.

  Seiji foi o primeiro a rir.

  — Algo épico, hein? — Ele cruzou os bra?os, fingindo uma express?o séria. — Já sei! Um jogo de sobrevivência, estilo zumbis, em toda a escola!

  Kazuki estreitou os olhos, pensando naquela ideia idiota.

  — Hm, n?o é má ideia… mas zumbis? Meio batido, n?o acha?

  — Só se fizermos algo ainda mais insano. Tipo… uma batalha campal com os professores! — Akira sugeriu com um sorriso travesso, equilibrando um lápis atrás da orelha.

  Todos riram, e Kazuki suspirou, balan?ando a cabe?a.

  — Cara, t? tentando ser sério aqui. Quero que nossa turma se destaque, tá?

  Kaori, que tinha acabado de se juntar ao grupo, riu enquanto ajeitava a mochila no ombro.

  — Que pena que n?o estamos na mesma turma. Minha classe quase certamente vai fazer outra sala de terror. é o clássico que sempre dá certo, mas é um trabalh?o…

  Kazuki olhou para ela, interessado.

  — Sala de terror, hein? Realmente, é um clássico que sempre atrai bastante gente. Talvez a gente devesse pensar em algo do tipo…

  — ...Ou, que tal um maid café? — Akira sugeriu de repente, com uma express?o maliciosa no rosto, enquanto olhava para Seiji.

  O silêncio que se seguiu foi rapidamente rompido por Seiji, que praticamente saltou de onde a gente estava sentado.

  — Um maid café?! — Seus olhos brilharam de anima??o. — Ver as garotas... em um uniforme de empregada...

  Kaori riu, cobrindo a boca com a m?o.

  — Você é inacreditável, Seiji.

  — E é exatamente por isso que a ideia do Akira n?o vai acontecer. — Rintarou interveio, ajeitando os óculos enquanto lan?ava um olhar reprovador para Seiji.

  — Relaxa, t? só brincando — Seiji levantou as m?os, como se estivesse se rendendo. — Mas a ideia de um café n?o é ruim. Talvez um café temático, tipo… uma cafeteria do espa?o ou algo assim? — Ele sorriu, parecendo genuinamente satisfeito com sua contribui??o.

  Kazuki fez uma anota??o rápida no bloco, ainda pensativo.

  — Um café temático... n?o é uma má ideia. é simples, mas dá pra ser criativo com a decora??o. E n?o exige tanto trabalho físico, o que é sempre um b?nus.

  — Melhor que uma batalha campal com os professores, pelo menos — comentei, com um leve sorriso.

  Akira deu de ombros, n?o parecendo muito convencido.

  — Ainda acho que o Maid Café ia ser um sucesso...

  — Você só quer se livrar do trabalho pesado. — Rintarou rebateu, sem tirar os olhos de um livro que estava folheando.

  Kaori, claramente se divertindo com a troca de ideias, apoiou o queixo nas m?os.

  — Seja lá o que vocês decidirem, espero que n?o acabem se matando durante a organiza??o. Esses festivais sempre parecem uma guerra por trás dos bastidores.

  Kazuki suspirou dramaticamente, fechando o bloco de notas como se fosse um livro de tragédias.

  — N?o se preocupem! Eu estou aqui pra garantir que nossa turma seja um sucesso absoluto. Confiem no meu plano!

  — A gente confia… mais ou menos. — Seiji brincou, arrancando risadas do grupo.

  Antes que o assunto pudesse mudar, Takeshi apareceu por perto, equilibrando uma pilha de livros que parecia que iria cair a qualquer momento. Ele se aproximou, o rosto iluminado pelo entusiasmo.

  — Ei, Shin! — Ele chamou, ajeitando os livros nos bra?os enquanto se aproximava. — Fiquei sabendo que vocês v?o formar outro grupo de estudos com o Rintarou. Posso participar também?

  Antes que eu pudesse responder, Akira levantou a m?o como se estivesse em uma sala de aula.

  — Eu também! Me inclui nessa, Shin!

  Soltei uma risada curta, olhando para os dois.

  — Claro, Takeshi e Akira — respondi, abrindo um sorriso. — Quanto mais gente, melhor.

  — Valeu! — Disse Takeshi, animado.

  — é isso aí! — Akira exclamou, dando um pequeno soco no ar.

  Kaori, que até ent?o observava a cena com um olhar divertido, riu enquanto cruzava os bra?os.

  — Mais gente pra você ajudar… — comentou, lan?ando um olhar malicioso na dire??o de Rintarou.

  Ele suspirou, ajustando os óculos, mas n?o conseguiu evitar um pequeno sorriso.

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  — Alguém tem que manter vocês fora da recupera??o, né?

  — Ainda bem que temos você! — Seiji disse, jogando um bra?o ao redor dos ombros de Rintarou com um sorriso largo. — Rintarou, o herói das provas finais!

  Rintarou balan?ou a cabe?a, empurrando o bra?o de Seiji de leve.

  O sinal tocou, ecoando pelo pátio e sinalizando o fim do intervalo. Houve um suspiro coletivo entre o grupo, aquele típico desanimo que precede o retorno às aulas.

  As aulas passaram em um piscar de olhos, e logo já estávamos reunidos na saída da escola. O grupo estava animado, discutindo o melhor lugar para o grupo de estudos.

  Enquanto Seiji sugeria a lanchonete perto da escola e Kaori insistia que sua casa seria mais tranquila, eu sabia que n?o poderia me juntar a eles naquele dia.

  — Ah, eu n?o vou poder ir hoje — comecei, tentando manter o tom casual enquanto ajustava a al?a da mochila.

  Seiji olhou para mim, confuso.

  — O quê? Por quê?

  — é… compromisso. Depois eu conto — respondi, tentando escapar das perguntas.

  Kaori levantou uma sobrancelha, claramente desconfiada.

  — Muito misterioso, hein, Shin?

  — Talvez vai se encontrar com alguém e n?o quer nos dizer — Akira mostrou um sorriso provocador, enquanto equilibrava os livros com cuidado.

  Eu ri de leve, dando um passo para trás enquanto eles continuavam com suas teorias.

  — N?o é nada disso, depois eu conto — Disse, antes de acenar e come?ar a me afastar. — Boa sorte nos estudos.

  Seiji gritou atrás de mim.

  — Ei, Shin! N?o esquece que você também precisa estudar, hein!

  Levantei a m?o em resposta, sem olhar para trás. Enquanto caminhava na dire??o oposta, n?o pude deixar de sorrir.

  Eles estavam certos, claro, eu precisava estudar.

  Mas naquela tarde, meu foco estava em outra coisa — ou melhor, em outra pessoa.

  Caminhei em dire??o à biblioteca, sentindo meu cora??o acelerar a cada passo. Era estranho e engra?ado como uma simples caminhada podia parecer t?o carregada de expectativas.

  Quando cheguei e empurrei a porta silenciosamente, fui recebido pela vis?o que tirou o pouco de compostura que eu achava que tinha.

  Yuki estava sentada perto de uma das janelas, o sol da tarde se infiltrando através do vidro e brincando com os fios de seu cabelo, criando um brilho suave e quase... de outro mundo.

  Era como uma cena saída de um livro, algo t?o perfeito que parecia intencional.

  Ela me viu e ergueu os olhos, sorrindo com aquele jeito tranquilo que fazia meu cora??o pular uma batida.

  — Oi, Shin — acenou levemente, apontando para o relógio pendurado na parede. — Chegou cedo.

  — N?o queria me atrasar — respondi, tentando soar descontraído, mas sentindo meu rosto esquentar levemente. Caminhei até a mesa e me sentei ao lado dela, ajustando minha mochila.

  Havia algo intimidante em estudar com Yuki, mas também era motivador. Ela tinha uma calma e confian?a naturais, como se nada fosse difícil demais para ser resolvido com paciência.

  — Que tal come?armos pelas matérias mais difíceis? — sugeriu, puxando um livro de matemática.

  Eu levantei as sobrancelhas, surpreso.

  — Difíceis primeiro? Sempre come?o pelas mais fáceis. Deixa as complicadas pro final, sabe? — disse com uma risada nervosa.

  Yuki sorriu, balan?ando a cabe?a de leve.

  — é exatamente por isso que, no final, você acaba ficando enrolado. Melhor resolver logo o que é complicado, assim sobra tempo para o que é mais simples.

  A lógica dela era impecável, como sempre. Suspirei, aceitando a sugest?o, e abri o livro na página que ela indicou.

  Ela come?ou com algumas perguntas para medir até onde eu sabia. As primeiras foram tranquilas, mas logo me deparei com uma quest?o que parecia estar escrito em outro idioma. Fiquei encarando o papel, como se isso fosse revelar a resposta de algum jeito.

  Yuki riu baixo, aquele riso suave que parecia ser um reflexo de sua gentileza. Ela colocou a m?o próxima à boca, num gesto quase tímido, o que de alguma forma só tornava a cena mais linda.

  — é mais simples do que parece — ela come?ou, puxando o papel para mais perto dela. — Olha só… — Yuki come?ou a explicar passo a passo, a voz calma e regular guiando cada linha da quest?o.

  Ela simplificava tudo de um jeito que fazia parecer fácil.

  Segui suas instru??es com cuidado e, para minha surpresa, consegui resolver a próxima quest?o sozinho.

  — Uau... você aprende rápido — ela comentou, os olhos brilhando levemente de surpresa.

  — Ah… isso é só porque você explicou bem — respondi, desviando o olhar.

  Ela deu um pequeno sorriso, parecendo satisfeita. Depois de mais algumas quest?es, foi a vez de ela pedir ajuda.

  — Agora é sua vez — disse, pegando o livro de inglês e virando para uma página com exercícios de gramática. — Inglês n?o é minha melhor matéria. Pode me dar uma m?ozinha?

  Me senti um pouco mais à vontade, percebendo que essa era uma área em que eu tinha um pouco mais de confian?a. Peguei o livro e comecei a explicar as respostas, ajudando-a a corrigir alguns erros nos exercícios.

  Conforme conversávamos, a dinamica entre nós fluía com naturalidade. Os momentos de estudo eram cortados por risadas baixas e pequenos comentários que aliviavam a tens?o que eu sentia.

  Em um ponto, ela pareceu errar de propósito uma quest?o de vocabulário, dizendo "eu queria ver se você estava prestando aten??o".

  — Ah, claro. Totalmente proposital — respondi, rindo.

  — Eu juro! — Ela sorriu, pegando a caneta e corrigindo a resposta.

  Cada intera??o parecia construir algo mais sólido entre nós, algo que ia além de simplesmente estudar para as provas. Era uma parceria, um entendimento mútuo que me fazia esquecer o nervosismo inicial que senti.

  Enquanto ela fazia anota??es em silêncio, meu olhar escapou sem que eu percebesse. A maneira como a luz suave da biblioteca iluminava seu rosto, destacando seus tra?os delicados, e a concentra??o tranquila em seus olhos criava uma cena que me fez ficar totalmente hipnotizado.

  Eu n?o conseguia tirar meus olhos dela.

  Era como se o tempo tivesse desacelerado por um instante, e só ent?o me dei conta de algo simples, mas inegável: estar ali, ao lado dela, era uma sorte que eu nunca havia parado para apreciar de verdade.

  No momento em que esse pensamento cruzou minha mente, Yuki ergueu o olhar. Nossos olhos se encontraram, e fui pego completamente desprevenido.

  Meu cora??o errou uma batida, e por um instante, eu me senti como se estivesse preso naquele breve segundo entre a surpresa e a incerteza, sem saber ao certo se desviava o olhar ou se ficava ali, perdido naquela troca inesperada.

  — O que foi?

  — Ah, nada! Só… pensando em como as provas finais v?o ser difíceis — disfarcei rapidamente, voltando minha aten??o para o livro.

  Ela inclinou a cabe?a, desconfiada, mas n?o disse nada. Apenas sorriu de leve antes de voltar aos exercícios.

  E, assim, continuamos a estudar, rindo, aprendendo e, de alguma forma, encurtando a distancia entre nós.

  A luz do entardecer atravessava as janelas da biblioteca, pintando as mesas e os livros com tons dourados. O ambiente parecia mais silencioso do que antes, como se o tempo tivesse desacelerado enquanto estudávamos.

  Foi só quando olhei para o relógio que percebi o quanto o tempo havia passado rápido demais.

  Estudar com Yuki n?o era apenas produtivo; era surpreendentemente reconfortante. Cada explica??o, cada risada compartilhada, parecia adicionar um novo brilho à tarde.

  De alguma forma, aquilo ia além de resolver exercícios ou revisar matérias. Era um tipo de conex?o que eu n?o conseguia descrever, mas podia sentir com clareza.

  Ela ent?o fechou o livro de matemática com um leve estalo e come?ou a arrumar suas coisas. Segui o exemplo, colocando meus materiais de volta na mochila enquanto o som suave de papel do livro quebrava aquele silêncio.

  — Obrigada por me ajudar com inglês, Shin. — ela come?ou, quebrando o silêncio com um sorriso caloroso. — Talvez eu pe?a sua ajuda mais vezes… se n?o se importar. — Seu tom carregava uma leveza que parecia quase tímida.

  Senti um calor familiar subir pelo meu rosto, mas mantive o sorriso.

  — Claro! — respondi, tentando soar casual. — Eu que devo agradecer. Matemática nunca fez tanto sentido antes... — acrescentei, rindo de leve.

  Ela riu junto, o som suave como um eco no ambiente tranquilo. Enquanto nos levantávamos, percebi que n?o queria que aquele momento acabasse t?o rápido.

  Caminhamos até a saída da biblioteca, onde o céu come?ava a se tingir de tons alaranjados e roxos. O sol que antes iluminava a mesa, naquele instante, se escondia atrás dos prédios, deixando um vento fresquinho no ar.

  — Nos vemos amanh?, Shin. — Yuki disse, parando na entrada e me dando um último sorriso.

  — Sim… até amanh? — respondi, erguendo a m?o em um gesto de despedida.

  Enquanto ela se afastava, fiquei parado por um instante, observando-a desaparecer na esquina. Um pensamento atravessou minha mente, claro como o céu naquele fim de tarde: estudar nunca tinha sido t?o agradável.

  E, pela primeira vez, percebi que as provas finais, que sempre pareceram uma montanha gigante insuperável, talvez n?o fossem t?o ruins assim.

  Pelo menos, n?o com ela por perto de mim.

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