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Equilíbrio

  O som do sinal ecoou pelos corredores, e as portas das salas se abriram ao mesmo tempo, despejando uma onda de alunos que se espalharam animados pelos corredores.

  O clima parecia, de alguma forma, um pouco mais leve do que nos últimos dias — talvez porque, apesar das provas finais estivessem cada vez mais próximas, o Festival Escolar já come?ava a dominar as conversas entre as turmas.

  As discuss?es sobre as apresenta??es e os preparativos pareciam um alívio bem-vindo em meio à tens?o da escola. Mas, para mim, a leveza do momento n?o fazia tanta diferen?a. Meu cérebro estava dividido em dois.

  De um lado, os estudos exigiam minha aten??o total. N?o podia me dar ao luxo de vacilar naquele momento.

  Do outro, havia meu manuscrito. Mesmo sem querer, ele sempre encontrava um jeito de voltar para minha mente, sempre presente em algum canto da minha cabe?a. Os refinamentos sugeridos por Shihei ainda ecoavam, e eu sabia que, assim que tivesse um intervalo entre os estudos, precisaria me dedicar a eles.

  Quando cheguei em casa, joguei a mochila no ch?o e fui direto para a mesa. Meu manuscrito repousava ali desde a última vez que mexi nele, as páginas cobertas por anota??es. Peguei os papéis e passei os olhos pelos comentários de Shihei, cada um carregado de um olhar crítico que enxergava muito além do que eu conseguia ver na minha história.

  "Essa cena é boa, mas poderia transmitir mais impacto se você segurasse o momento só mais um pouquinho."

  "O protagonista toma essa decis?o rápido demais. Uma hesita??o antes seria mais realista, n?o acha?"

  "Aqui está ótimo, mas poderia ser ainda melhor se adicionasse um detalhe sensorial que fizesse o leitor ser transportado para dentro da cena."

  Lia cada comentário com aten??o, sentindo a precis?o da análise de um editor de verdade. Era estranho perceber como, mesmo tendo sido eu quem escreveu aquela história, Shihei conseguia enxergar camadas que eu sequer havia considerado.

  Ele n?o tentava mudar minha essência — queria real?á-la ainda mais.

  Soltei um longo suspiro, ajeitando minha postura na cadeira. Abri um novo documento e comecei a trabalhar nos ajustes. Algumas frases foram reescritas completamente, outras cortadas sem piedade. Pequenos detalhes adicionados aqui e ali, ajustando o ritmo de certas cenas para torná-las ainda mais fluidas.

  Cada corre??o, cada refinamento, parecia trazer a história para mais perto da vers?o que ela deveria ser.

  Os minutos se transformaram em horas sem que eu percebesse. Só me dei conta do tempo quando meu est?mago come?ou a roncar, me trazendo de volta pra realidade.

  Olhei para o relógio e notei que já estava na hora de encontrar o grupo de estudos na lanchonete.

  — Certo. Por hoje, isso foi um bom avan?o — murmurei, me espregui?ando na cadeira enquanto passava a m?o pelos olhos cansados.

  Guardei o documento, organizei os papéis espalhados e peguei minha mochila. Ainda havia muito trabalho pela frente, mas, naquele momento, o foco precisava mudar para outra coisa: as provas.

  Caminhei até a lanchonete, que já estava cheia de vozes e risadas quando cheguei. O som de talheres batendo contra os pratos e o aroma de café fresco se misturavam ao ambiente acolhedor.

  Assim que avistei minha mesa, uma cena clássica me preencheu: Seiji e Akira tavam travando uma disputa de garfo sobre o último peda?o de bolo.

  — Ei! Eu vi primeiro! — Seiji exclamou, puxando o prato para si como se estivesse protegendo um prêmio.

  — Você já comeu metade do bolo, seu esfomeado do caramba! — Akira rebateu, tentando arrancar o garfo da m?o dele.

  Rintarou suspirou, visivelmente acostumado com esse tipo de cena, enquanto Takeshi assistia tranquilamente, mordendo um sanduíche vendo aquilo como se fosse algo normal no dia a dia.

  Mais à frente, Mai e Kaori conversavam animadamente, mas se viraram ao me ver se aproximando.

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  — Tá atrasado, Shin! — Kaori exclamou, cruzando os bra?os com um sorriso travesso. — Pensei que você ia dar no pé.

  — Eu n?o faria isso sem avisar, só tava ocupado com algumas coisas — respondi, colocando minha mochila ao lado da cadeira enquanto me sentava.

  — Sei… "ocupado"… — Akira comentou, estreitando os olhos de forma suspeita.

  — Certo, certo, vamos focar no estudo agora. — Rintarou interveio antes que as provoca??es se prolongassem, já abrindo um caderno cheio de exercícios. — Seiji, Akira, parem com essa briga e prestem aten??o.

  — Tsc. Eu venceria essa disputa fácil se fosse sério... — murmurou Seiji, largando o garfo com relutancia.

  — Isso n?o é um torneio de luta, Seiji. — Mai balan?ou a cabe?a, rindo.

  Com a mesa finalmente sob controle, pegamos os livros e cadernos, prontos para mais um dia de estudos.

  O tempo passou entre cálculos, anota??es e rabiscos. Takeshi soltava um resmungo a cada nova quest?o de matemática, enquanto Seiji fingia que estava prestando aten??o, mas, na verdade, desenhando algo no canto do caderno.

  Em determinado momento, uma quest?o particularmente complicada apareceu, e a mesa inteira fez uma pausa coletiva. O silêncio que se seguiu foi quase palpável, enquanto todos encaravam o problema como se ele fosse algum tipo de código indecifrável.

  — Essa quest?o nem faz sentido! Eu desisto! — Seiji exclamou, jogando o lápis sobre a mesa e se recostando na cadeira, derrotado.

  — Sim, n?o t? vendo como se resolve essa... — murmurou Takeshi, se inclinando para trás. Ele ent?o ergueu o olhar para mim. — Shin, nos ajuda!

  Rintarou analisou a situa??o e, após alguns segundos, seu olhar pousou em mim.

  — Quer tentar?

  Pisquei algumas vezes. Mais uma vez, a quest?o me parecia estranhamente familiar. Claro, n?o era exatamente a mesma, mas a estrutura lembrava muito uma quest?o que Yuki havia me ensinado na biblioteca e que eu tinha consolidado durante as aulas.

  Respirei fundo, peguei o lápis e comecei a escrever no caderno, reproduzindo os passos que ela havia explicado para mim com tanta paciência.

  — Prestem bem aten??o. Vocês só precisam… — comecei, focado nos cálculos.

  Os outros se inclinaram para observar, acompanhando meus movimentos conforme eu detalhava o raciocínio, passo a passo. Quando terminei e levantei os olhos, fui recebido por express?es de puro espanto.

  — Uau… isso fez muito sentido. — Mai disse, impressionada.

  — Tá, quem é você e o que fez com o Shin?! — Kaori exclamou com exagero, apertando os olhos como se estivesse diante de alguém que n?o fosse eu. — Tá tudo bem com você?

  — é sério, Shin, você andou comendo alguma coisa diferente? Tá parecendo um gênio de repente! E n?o é a primeira vez! — Akira perguntou, colocando as m?os sobre a mesa enquanto se inclinava em minha dire??o.

  Cocei a cabe?a, desviando o olhar.

  — Ah, eu só tive uma boa ajuda...

  No mesmo instante, o grupo trocou olhares cúmplices. Tossi discretamente e voltei a focar no caderno.

  — Certo, certo, vamos para a próxima quest?o. Ainda temos muitas matérias para revisar, né — Mesmo assim, pude sentir os olhares curiosos e maliciosos sobre mim.

  Depois de mais algumas horas de matemática, Rintarou finalmente fez uma pausa. Seiji e Akira comemoraram, já pedindo um peda?o de bolo do menu.

  — Finalmente! Eu tava quase virando estatística com tanta matemática! — Seiji exclamou, jogando a cabe?a para trás, exausto.

  — Se esse estudo durasse mais um minuto, minha cabe?a ia explodir! — Akira completou, cruzando os bra?os como se tivesse passado por algo cruel. Talvez, de certa forma, fosse realmente cruel pra ele.

  — Já tá bom por hoje, n?o é? Vamos pra casa... — Takeshi suspirou, fechando seu caderno como se encerrasse um capítulo trágico de sua vida.

  — Agora merecemos um descanso antes da próxima sess?o de tortura... — Kaori brincou, pegando seu copo de suco e tomando um gole.

  — H?? Próxima!? Achei que já tínhamos acabado... — Takeshi murmurou, arrancando risadas de todos na mesa.

  Enquanto os outros come?avam a relaxar mais e a conversar sobre outras coisas, minha mente come?ou a vagar novamente. O alívio da pausa n?o foi o suficiente para afastar a outra preocupa??o que rondava meus pensamentos.

  O refinamento do meu manuscrito. Os ajustes que ainda precisavam ser feitos. As sugest?es de Shihei que aguardavam minha revis?o.

  Peguei o celular e abri nossa conversa. Sua última mensagem, que havíamos trocado dias depois desde a reuni?o, ainda brilhava na tela, como um lembrete da responsabilidade que eu carregava.

  "N?o se esque?a de enviar o novo manuscrito nessa próxima semana!"

  Respirei fundo. Precisava encontrar tempo para fazer os refinamentos o mais rápido possível. Inicialmente, pensei em deixar isso para depois das provas, mas se isso acontecesse, provavelmente n?o teria o prazo necessário para entregar um trabalho bem feito pra revista.

  Sem chance que isso poderia acontecer. De jeito nenhum mesmo... ent?o o que eu deveria fazer?

  Meu olhar permaneceu fixo na tela por alguns instantes até que uma voz suave me tirou daquele transe.

  — Em que tá pensando, Shin?

  Levantei a cabe?a e encontrei Mai me observando, seu olhar curioso, mas gentil. Guardei o celular no bolso, for?ando um pequeno sorriso.

  — Ah, nada demais. Só algumas coisas que ainda preciso fazer depois das provas.

  Ela inclinou levemente a cabe?a, mas n?o insistiu. Em vez disso, sorriu de leve.

  — Entendi. Bem, vamos focar no agora primeiro. Você tá se saindo bem nos estudos, ent?o continue assim.

  Seu tom era encorajador, como se soubesse que minha mente estava sobrecarregada de algo.

  — Sim… obrigado.

  Olhei ao redor, observando meus amigos rindo e conversando, despreocupados por um breve momento. Mesmo com as provas finais batendo na porta, momentos como esse faziam tudo parecer mais leve.

  E, de alguma forma, eu estava conseguindo manter o equilíbrio.

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