Dias esquecidos, perdidos.

  Que roa a roda do tempo,

  que explodam os raios livres e partidos.

  Colinas e serras moendo,

  ossos gastos expostos ao sol, rios secos.

  Uma vida em eternidade acreditar,

  no tempo t?o curto que a n?o existência

  prove que o mundo acaba quando morremos.

  Na moenda do tempo esquecer,

  inimigos em amigos, inimigos em parentes, grandes amigos e família

  em desconhecidos tornados.

  Contas a pagar na roda sem fim,

  do tempo que, ao final,

  sabe ser mais clemente

  do que nós que só sabemos gritar:

  o que fiz para merecer tanto pesar?

  1

  - Tenho certeza de que conhe?o você – reclamou o lobisomem.

  - Pois é ... – cismou a manira-ellos balan?ando a lan?a como se fosse de forma casual. – Sabe que eu também? – revelou, se virando e tomando a trilha larga na borda da velha floresta.

  - Pois é! Sabe de uma coisa? Pois eu também n?o gostei de você – ele gritou para ela, que já tomara alguma distancia, a confus?o estampada na voz.

  A manira parou, a lan?a riscando levemente o ch?o. Havia algo naquela pessoa que a incomodava, que lhe gritava para ter cuidado. Ent?o se virou, os olhos agora duros.

  - N?o o conhe?o, e confesso que me dá arrepios só de pensar em tal coisa. Ent?o, vá embora e n?o apare?a mais no meu caminho.

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  - Ora, mas você é arrogante demais – ele rosnou baixinho, as garras de marfim se mostrando levemente em tom de amea?a, o que n?o passou despercebido para a manira.

  Sem qualquer palavra ou mostras do que fariam, os dois se precipitaram um contra o outro.

  A lan?a entrou fácil pelo peito do lobisomem que, para estranheza da manira, recolheu as garras, enquanto seus olhos se suavizavam.

  A manira sabia que também havia sido atingida mortalmente, mas algo naqueles olhos e na suavidade que o rosto adquiria lhe chamaram a aten??o, e ela prestou aten??o, como o de um sedento que encontra a alguma distancia uma mina d'água.

  Ent?o, antes que a escurid?o a tocasse ouviu como um sussurro: "Nunca a deixei, Ariel. Nessa ou noutra vida eu vou te encontrar...".

  II

  Manacel inspirou fortemente, se perguntando mais uma vez se n?o deveria ter interferido. Ainda cismando viu as centelhas dos dois se elevando e partindo.

  - Quanto tempo já? – se perguntou. - Mais de trezentos anos, sem dúvida – contou mentalmente.

  - Ent?o? Mais uma vez?

  Manacel inspirou novamente, os olhos nos corpos destruídos perto de um pequeno pronunciamento da floresta, dos quais se aproximavam algumas on?as tentando se apressar antes que os corpos se desfizessem.

  - Mais uma vez, Miguel. Tem certeza de que n?o devo mesmo interferir?

  - Tenho sim... A estória que eles carregam, que ela carrega, n?o terminou muito bem. Mas, fique tranquilo: ainda vai piorar muito até poder melhorar – sorriu.

  - Lázaro e Ariel... As estórias dos dois é muito bonita. Lázarus n?o precisa passar por isso. Acho que, no fundo, Negrumo sabia que n?o havia contrato algum assinado por Lázarus, e que ele n?o poderia ser obrigado a cair na experiência. Mesmo quando encarna, só amortece suas lembran?as por própria vontade, porque ele as tem por completo. Ent?o por que...

  - Por amor, meu amigo. Ele desceu por amor ao seu irm?o Haamiah. Ele lan?ou uma semente em Ladar, e ele a viu e a segurou com todo fervor – sorriu. – E quanto a Ariel, ele finge esquecer para que ela desperte, porque ela realmente caiu na experiência por causa da nega??o e da dor. Mas n?o ele. Parece que essa é a natureza dele – cismou. - Ele foi o único umdosirm?os que ficou, para dos outros cuidar, como agora é o único dos tardisch que fica, para dos outros cuidar.

  - Ela vai amenizar sua dor?

  - Ah, sem dúvida... O amor n?o fica sem reposta. Isso ainda n?o acabou, meu amigo. Tenho absoluta certeza de que Haamiah vai voltar, e que Lázarus e Ariel ainda v?o se acertar, você vai ver. O que eles tiveram n?o se acaba assim. Esses três est?o destinados a fazerem grandes coisas juntos.

  - Tenho certeza de que sim... Mas, e quanto a Ariel e ele. Sabe, tenho minhas dúvidas sobre a nossa atua??o. Pelo que me lembro, eles já se mataram umas doze vezes – sorriu, lembrando-se de algumas passagens hilárias.

  Miguel examinou o semblante do outro, e n?o pode deixar de rir também.

  - Assim deve ser. Uma escolha deles, n?o perca isso de foco. E sei o do porquê desse sorriso. Aposto que está se lembrando daquela vez em que o Lázarus empurrou a Ariel pelo barranco, é essa?

  - Sim, quando Lázarus veio como m?e-da-mata...

  - E Ariel como um saci? – Miguel n?o pode se controlar muito bem, e riu divertido.

  - Pois é... Dá para acreditar? Eles nunca tinham se visto – foi falando enquanto se elevavam. - A m?e-da-mata apenas passou por ele e deu aquela bundada no coitado do saci, que despencou barranco abaixo e morreu.

  - Ah, e aqui tudo se paga n?o é? – Miguel acompanhou o outro na risada. – A m?e-da-mata ter sido atingida por aquele raio enquanto ria do que acontecera com o saci foi demais, n?o foi? Se lembra?

  - E como poderia me esquecer? Ainda fico me perguntando quem mandou aquele raio. Verdade que n?o foi você? – perguntou enquanto se afastavam lentamente.

  - Poderia ter sido, n?o é? Mas n?o foi... Acho que foi o próprio Lázarus, para recome?ar e n?o descasar seu tempo com o de Ariel. Ah, e lembra daquela outra vez que eles...